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Eu vou pra casa

Vou pra casa descansar. Moro sozinho. Não tenho vizinhos. Agora já posso deixar de lado a busca. Esquecer-me dela. Não há destino, não há o que encontrar. Como comecei: vamos viver. Há algo na sabedoria do buda que toca profundamente. Mas não deve-se seguir ninguém. Não deve-se fazer parte de nenhum rebanho... Deve-se ter senso de comunhão apenas...

 "O homem entusiasta. Seguem-no discípulos de todas as partes (...) " "...não tem pretensão alguma de formar uma religião, nem de formar uma seita, nem de reformar o bramanismo, nem de criar nada. Quer viver a sua vida, não pretende nada, não quer nem mesmo dar um nome a comunidade que pouco a pouco está se formando. Ao morrer, octogenário, os discipulos se dão conta de que não tem um lugar, que nada sabem, que nada está resolvido. Que se passou? Então, três meses após a sua morte, quinhentos anciãos convocam o primeiro concilio do mundo budista para ver o que havia ocorrido. (...)" "Nesse concilio se configuram dois partidos. O dos que cantam e o dos que permanecem em silêncio. Essa é a origem do que mais tarde se chamou de movimento, que hoje é chamado de religião, que tem por nome budismo, e que tem, como todo ismo, um alto grau de abstração. Esse homem não pretende ser profeta, não reclama nenhuma autoridade especial, não se diz enviado por ninguém, evita sistematicamente o nome de Deus e quando Râdha, um monge, lhe pede que lhe diga algo de Deus, ele diz: Oh, Râdha! Não sabes o que estás perguntando, não conheces os limites de tua pergunta, não sabes o que perguntas. Como queres que te responda?!(...)" "Assim nasce o que hoje em dia nós, com essa facilidade de rotular tudo, chamamos de budismo, ou melhor, tradições budistas, por que há mais de uma dezena, com suas filosofias. Mas buda não quer nada disso. Seu caminho não quer ser mundano, nem religioso, no sentido pelo qual muitos ainda entendem a palavra religião; caminha pelo caminho do meio, do equilíbrio, da harmonia, da igualdade, da serenidade. Uma mãe aflita, desesperada pela morte do filho, encontrou-se com ele, esperando um milagre ou consolo. O buda a recebe, a olha e diz: Contento-me com poucas coisas. - Pede o que quiseres! - diz Kusa Gautami. - Traz-me três grãos de arroz (ou um punhado de semente de mostarda). Mas traz-me grãos de uma casa onde nunca tenha havido uma desgraça como a tua, de onde nunca tenha havido dor. E a jovem mãe, esperançosa, acreditando que a coisa era relativamente fácil, foi buscar os três grãos de arroz; mas não encontrou nenhuma casa que não houvesse sido visitada pela morte prematura. E voltou até o Buda, dizendo: Por que queria ser tão especial, por que não conhecia a condição humana? Por que não me dava conta de que o que hoje estou sofrendo à minha maneira é o que encontrei em todas as casas onde pedi um grão de arroz? Eu achava que não havia dor como a minha, mas em vez disto vi que em todas as casas ela se havia manifestado. (...) Senso comum! Não fala de Deus, não dala de religião, não quer consolar com sentimentalismos, não dá explicações. Os discípulos das gerações que o seguem são mais intelectuais. Querem doutrina e soluções teóricas. Em troca ele admoestava: O que prego é como o caso do homem em quem atiraram uma flexa e agora vós me pedis que continue a discussão: Por que lhe atiraram a flecha? Quem eram os seus vizinhos? Quem viu o culpado? Onde se ouviu que a haviam atirado? São todas discussões teóricas. E quando o homem ferido está morrendo a única coisa que importa é tirar a flecha do corpo e não perder tempo procurando causas, perguntando os motivos, perseguindo o culpado, querendo fazer justiça, posando de intelectual a buscar soluções. Praxis, ação imediata, espontaneidade: tirar a flecha do corpo ferido, do corpo da humanidade gravemente ferida. (...) O mundo do Buda é o mundo da espontaneidade, da liberdade, de tirar a flecha sem se perguntar o porquê, não porque não exista, mas porque qualquer pergunta é uma forma de violar a existência, é pedir o que está por trás, é fazer o que fazem as crianças quando se perguntam o que há dentro de um brinquedo, e, então, o desmontam. E isso não é o pior, o pior é que não brincam mais com o que já desmontaram. Quando buscamos as causas, já não deixamos que os efeitos nos alegrem a vida. Mas se tivermos o coração puro, ele ficará vazio, dirá a tradição, nós nos perderemos em perguntas e não tiraremos a flecha do corpo ferido"

 - Raimon Pannikkar .e.s.p.e.l.h.o.d.e.m.i.l.o.l.h.o.s

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