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Mostrando postagens de setembro, 2014

Depois de Tchekhov e Antonioni

Eu conheci um homem que, cego de nascença, na minha idade passou a enxergar. Entusiasmado, não conseguia conter o choro ante a perspectiva de enfim ver as filhas. Mas o mundo era muito mais amplo e não só elas ele percebia. A cada nova experiência a riqueza da vida humana plena, que êxtase! Quantas coisas para aprender, este universo inexplorado.  Viajou, conheceu, vivenciou... Viu paisagens, pessoas, seus gestos e rostos...  Não demorou e as coisas começaram a mudar. O mundo era muito mais pobre que o imaginado. Ninguém tinha lhe dito que havia tanta sujidade, tanta fealdade, e ele via coisas abjetas por todo o lado. Quando era cego atravessava a rua sozinho, agarrado a uma bengala, mas agora, depois de recuperar a visão, tinha medo de se aventurar. A ternura e a beleza das filhas eram motivo de desconforto amargurado: passei a minha condição para alguém...  Atônito, emudeceu.